Por Nita Queiroz - uma singela homenagem ao Dr. Júlio César de Queiroz Teixeira.
Não sei bem explicar, mas tenho em mim a impressão de que a primavera é uma estação sempre aguardada com muita expectativa. Talvez seja porque a espera das flores nos renove a esperança de dias mais amenos, coloridos e alegres.
Infelizmente, em 2021, a euforia primaveril da minha família durou apenas um dia.
Verdade seja dita: o sol da almejada primavera nasceu todo elegante no dia 22 de setembro. Como diz o compositor Beto Guedes, ele chegou “abrindo as janelas do nosso peito” para receber a nova temporada. Mas, depois da bonita estreia, para nosso desalento, na manhã de 23 de setembro, eu e minha Grande Família Teixeira tivemos nossa primavera brutalmente interrompida.
Na temporada marcada pela delicadeza das flores, um forte e saudável galho da nossa frondosa árvore familiar foi arrancado de nós por pura perversidade.
Aos 44 anos, vivenciando um dos momentos mais bonitos de sua vida familiar e profissional, nosso amado Júlio César de Queiroz Teixeira teve a sua trajetória precoce e covardemente finalizada. E não pensem que apenas nossa família perdeu um filho extremamente amado. A partida de Júlio César, o alegre Bodinho, como a gente carinhosamente o chama, também deixa um vazio imenso nos corações amigos, que ele conquistou aos montes por onde passou.
E mais: a morte de Dr. Júlio impacta ainda toda uma coletividade. Afinal, numa rede de saúde já tão carente de bons profissionais, a perda de um médico tecnicamente competente e profundamente humano, como ele, abre uma ferida difícil de curar.
Meu primo tão bondoso foi banido da vida pela maldade de uma pessoa que se achou no direito de brincar de Deus. O calvário de Júlio César – por mais insano que isso possa parecer – foi justamente um dos consultórios médicos onde ele exercia a sua missão. Vejam que cruel ironia: meu primo foi imolado no mesmo lugar em que ajudou a curar as dores de tantas crianças.
Quisera eu, por um dia, ter os poderes do super homem para fazer o mundo todo girar ao contrário. Ah, se eu pudesse! Voltaria para a manhã do dia 23 de setembro e impediria meu primo de ir trabalhar.
Pensando bem, que ingenuidade a minha! Missão praticamente impossível essa de tentar impedir o médico Júlio César de ir ao encontro de seus pequenos pacientes. Dedicado e responsável como ele era, eu teria que arrumar uma desculpa muito bem elaborada. Ainda assim, provavelmente ele me diria: “Minha prima, não se preocupe. Quando terminar os atendimentos eu te ajudo a resolver a sua peleja.”
Sim, ele daria um jeito de atender a todos. Porque Júlio era homem de espírito agregador e, em seu coração, não havia espaço para divisões.
Mas eu queria muito mesmo ter esse poder de voltar no tempo para devolver à Daniela o marido amado; à minha tia Luzinha o filhinho caçula; a meus primos Gegê e Lula o irmãozinho mais novo.
Queria devolver Júlio César sobretudo a seus filhos Gabriel e Julinho, que experimentaram a paternidade amorosa por tão pouco tempo.
É por eles, especialmente, que nossa família vai voltar a sorrir. Porque não merecem viver nesse desalento absurdo que nos consome.
Gabriel e Julinho precisam de nós para viver a plenitude da infância com toda alegria, proteção e afeto que a presença do paizinho deles oferecia.
Passada uma semana da prematura e agressiva poda que nossa árvore familiar sofreu, estamos aqui reunidos nesta missa para agradecer a Deus pela vida de Júlio César; esse dom precioso que nos foi confiado por 44 anos.
Aproveitamos o momento de oração para também agradecer por todo carinho que nossa família tem recebido. Pedimos que, se possível, nos mantenham por mais algum tempo em suas preces. Temos certeza que a força amorosa que vem das orações de vocês é que nos ajuda a sustentar os pés no chão.
Que Deus abençoe a todos nós e inspire bondade nos corações humanos. E que nenhuma família precise passar por uma invernada tão severa como essa que estamos vivendo, desde o fatídico dia que nos roubaram a primavera.
Este texto foi escrito por ocasião da Missa de Sétimo Dia do médico Júlio César de Queiroz Teixeira. Uma homenagem da família, dos amigos e de todas as pessoas que o admiram.
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